top of page
Foto do escritorEmily Bandeira

A última semana

Atualizado: 3 de mai. de 2023



A última semana


Domingo, sentada na terraza

Conversava com J. sobre todas as coisas

que deveria fazer esta semana

porque esta é a ÚLTIMA semana

falamos sobre todos os parques

naturezas e arredores,

cafés, museus, centros culturais

em que não fui

Falamos sobre a cena de teatro e música

que não aproveitei

Os passeios que não fiz

São muitos

A cidade é grande e ainda que fosse menor

Ela fervilha, fervilha

Todos os dias novos programas surgem

Todos os dias, tangos que não escutei

Há muito a se fazer, lugares a se perder, explorar

E, como assim, só agora

que eu fui conhecer Palermo?

É das coisas mais turísticas!

E só agora, Emily?!

Que turismo desajuizado


É que eu estive muito ocupada

me familiarizando com algumas ruas do bairro

Com as calçadas e com as pessoas que sentam nas calçadas

de Constitución

Muito ocupada observando

Algumas árvores do bairro

se repetirem para mim

Estive muito ocupada descobrindo

cafés prediletos aqui perto

e vindo uma, duas, três vezes

até que a barista não me oferecesse mais o cardápio

e me sorrisse com familiaridade

Deveras ocupada

descobrindo as linhas de ônibus daqui de perto

(com o 60 consigo ir a maioria dos lugares, se não, existe o 168, ou o 59)

e as ruas que aprendi que me levam a espaços

que gostei de descobrir

Muito ocupada

Tentando desvelar o casarão em que me meti

Com suas poéticas abandonadas e fantasmas


Nessa viagem,

exceto por uma exploração ou outra

(escapar ali para a casa de uma amiga)

Meu raio de investigação

foi relativamente pequeno


Em teoria estou no centro

(centro de quem?)

Alcançando até onde meus pés podem me levar

Usando o mesmo sapato todos os dias

Até que sua sola começou a mostrar

todo seu tempo e experiência


E ontem, segunda-feira

da última semana

me gritavam uma imperiosa urgência

de tudo que é portenho e que ainda não vi, não vivi, não senti


Resolvi deixar tudo para trás

A pressa, a agonia do não visto

Buenos Aires, mi amor

Não quero te viver com nenhuma pressa

Você tem sido um desfrute lento

de caminhadas suaves

e sorrisos a cada livraria

você tem sido um retorno lento

do que é precioso dentro de mim

você tem sido poesia lenta

e, como disse Seu Dorival,

Música feita às pressas é aquela droga

Então deixa

deixa pra lá

Deixa o convite para o retorno

uma desculpa em aberto

para poder voltar de novo

Até jázin




Comentarios


bottom of page