A última semana
Domingo, sentada na terraza
Conversava com J. sobre todas as coisas
que deveria fazer esta semana
porque esta é a ÚLTIMA semana
falamos sobre todos os parques
naturezas e arredores,
cafés, museus, centros culturais
em que não fui
Falamos sobre a cena de teatro e música
que não aproveitei
Os passeios que não fiz
São muitos
A cidade é grande e ainda que fosse menor
Ela fervilha, fervilha
Todos os dias novos programas surgem
Todos os dias, tangos que não escutei
Há muito a se fazer, lugares a se perder, explorar
E, como assim, só agora
que eu fui conhecer Palermo?
É das coisas mais turísticas!
E só agora, Emily?!
Que turismo desajuizado
É que eu estive muito ocupada
me familiarizando com algumas ruas do bairro
Com as calçadas e com as pessoas que sentam nas calçadas
de Constitución
Muito ocupada observando
Algumas árvores do bairro
se repetirem para mim
Estive muito ocupada descobrindo
cafés prediletos aqui perto
e vindo uma, duas, três vezes
até que a barista não me oferecesse mais o cardápio
e me sorrisse com familiaridade
Deveras ocupada
descobrindo as linhas de ônibus daqui de perto
(com o 60 consigo ir a maioria dos lugares, se não, existe o 168, ou o 59)
e as ruas que aprendi que me levam a espaços
que gostei de descobrir
Muito ocupada
Tentando desvelar o casarão em que me meti
Com suas poéticas abandonadas e fantasmas
Nessa viagem,
exceto por uma exploração ou outra
(escapar ali para a casa de uma amiga)
Meu raio de investigação
foi relativamente pequeno
Em teoria estou no centro
(centro de quem?)
Alcançando até onde meus pés podem me levar
Usando o mesmo sapato todos os dias
Até que sua sola começou a mostrar
todo seu tempo e experiência
E ontem, segunda-feira
da última semana
me gritavam uma imperiosa urgência
de tudo que é portenho e que ainda não vi, não vivi, não senti
Resolvi deixar tudo para trás
A pressa, a agonia do não visto
Buenos Aires, mi amor
Não quero te viver com nenhuma pressa
Você tem sido um desfrute lento
de caminhadas suaves
e sorrisos a cada livraria
você tem sido um retorno lento
do que é precioso dentro de mim
você tem sido poesia lenta
e, como disse Seu Dorival,
Música feita às pressas é aquela droga
Então deixa
deixa pra lá
Deixa o convite para o retorno
uma desculpa em aberto
para poder voltar de novo
Até jázin
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