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Foto do escritorEmily Bandeira

Sobre Justiça Linguística I

Espero que esse seja o primeiro texto de muitos sobre justiça linguística.

ilustração por Kris Chau


Uma parte de mim sente que gostaria de estudar muito mais sobre esse assunto antes de vir aqui escrever, outra parte de mim me impulsiona para que eu venha e teste, escreva, rascunhe, descubra o que eu sei e o que ainda não sei.


Há poucas semanas me deparei com esse termo "language justice" e rapidinho minhas antenas se mexeram, algo dentro de minha curiosidade se acendeu. Quê que é isso? Por que parece ter a ver com as coisas que faço e que quero fazer? O que é justiça linguística, afinal?


"A Justiça linguística trata de construir e manter espaços multilíngues em nossas organizações e movimentos sociais para que a voz de todas as pessoas possam ser escutadas enquanto indivídues, mas também enquanto diversidade de comunidades e culturas. Valorizar a justiça linguística significa reconhecer as dimensões políticas e sociais da língua e do acesso à língua, ao mesmo tempo em que se trabalha para desfazer as barreiras linguísticas, equalizar as dinâmicas de poder e construir comunidades fortes para a justiça social e racial. (Communities Creating Healthy Environments)

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A Move to End Violence resume a luta por justiça linguística: "Vivemos em um contexto em que pessoas são desencorajadas de falar suas línguas nativas, onde pessoas têm sido punidas, criminalizadas e discriminadas por fazê-lo, em que milhares de línguas indígenas têm desaparecido do planeta de maneira forçada. A injustiça linguística perpetua violências de maneiras que silenciam, apagam e desumanizam populações inteiras. A justiça linguística nos permite romper com o privilégio e com a colonização, desafiando a dominância inglesa e ocidental no conhecimento, comunicação e liderança."

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"Um mundo em que as estruturas sociais não sejam baseadas na dominância de uma língua sobre todas as outras. Um mundo em que a interpretação e a tradução sejam celebradas e valorizadas enquanto ferramentas críticas para uma comunicação aberta."

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A justiça linguística parece desenvolver diversos papéis em nosso mundo globalizado.

"No contexto legal, a justiça linguística é um compromisso em garantir que pessoas marginalizadas por conta de suas origens nacionais, identificações étnicas e linguagem não terão seu acesso a serviços, remédios ou justiça negados."


O conceito tem sido aplicado para garantir boas práticas de comunicação em ambientes multilíngues (ou com pessoas multilíngues), especialmente na construção de movimentos de justiça social – espaços que comumente dividem muitas culturas, pessoas e línguas de diversos cantos – no intuito de trazer harmonia entre o uso das línguas e garantir que nenhuma forma de discriminação ou exclusão linguística será realizada.


A justiça linguística surge para que possamos pensar sobre a hegemonia de algumas línguas sobre outras, sobre a possibilidade de que as pessoas possam se comunicar através de suas línguas maternas e de que não sejam menos escutadas ou compreendidas em função disso.

É comum em ambientes de trabalho ou de cooperação internacional, em que as histórias, vozes e opiniões de diversas pessoas possuem papel vital para a construção do trabalho/movimento, que a escolha dos idiomas e o modo como a comunicação se dará sejam decisões importantes a serem tomadas.


Os encontros e reuniões se darão em uma única língua oficial (Inglês, como é de praxe)? Se sim, haverá interpretação? Para quais línguas? Em quais formatos? Medidas serão tomadas para que não-falantes da língua oficial possuam espaço de expressão? As dinâmicas e atividades são pensados para que pessoas que falem línguas diferentes entre si possam se comunicar? É garantido que as pessoas não-falantes da língua oficial consigam usufruir dos materiais e dos espaços da mesma maneira que um falante?

Além disso, também é parte do questionamento sobre justiça linguística perguntar-se: Como é feita a escolha de um idioma oficial? Quais consequências essa escolha acarreta? Em quais situações parece importante resistir contra o uso de línguas dominantes? Em quais situações parece importante cooptá-las e adaptá-las para nossos propósitos? Como garantir que as trocas comunicativas se darão com equidade linguística?

(fim parte 1)







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