colagem e intervenção de fotos feitas por mim, 2018
"Tem um momento maravilhoso no livro "O Último Samurai" (2000) da autora Helen DeWitt, quando a narradora, Sibylla, oferece o que eu gosto de pensar como uma profecia para a literatura:
'Eu continuava escutando em minha mente pedaços de livros que podem existir daqui a trezentos ou quatrocentos anos. Um deles com as personagens Hakkinen, Hintikka e Yu, localizado provisoriamente em Helsinki – em um cenário nevado com vários figos negros, um céu escuro e estrelas brilhantes, uma narrativa ou talvez um diálogo com nominativo genitivo partitivo assivo inassivo adessivo ilativo ablativo alativo & traduzivo, pessoas chegariam e diriam Hyvää päivää para dizer bom dia e talvez tenha um acidente de trânsito para que a palavra tieliikenneonnettomuus possa aparecer, e então na mente das personagens chinesas Yu, como figos negros na neve branca, foi absolutamente arrebatador'
Eu sou fascinada com a proposta de que a linguagem na qual um romance é escrito pode ser mutável, determinado não pelo acidente da nacionalidade em que se nasce, mas pelas demandas internas da narrativa. E se, certas cenas, certas personagens, certos modos de falar e pensar, encontrassem sua expressão ideal em linguagens diferentes? Quais novas dimensões de criticismo podem surgir para nós? Qualquer romance que tente responder a essa questão seriamente exigiria leitores engajados nos estudos de linguística comparativa desde muito cedo. Essa é uma abordagem de educação precoce seguida por muitos países – meu país de origem, Turquia, vem a mente – mas certamente não nos Estados Unidos ou no Reino Unido. O romance que DeWitt imagina exigiria mudar a maneira como nos aproximamos da linguagem em todos os níveis do sistema educacional – uma perspectiva utópica, um projeto que provavelmente não pode ser realizado agora, mas que podemos trabalhar para que seja possível nos próximos trezentos ou quatrocentos anos – MERVE EMRE
trecho traduzido nas pressas (porque queria muito compartilhar isso aqui) do post da bookforum: What forms of art, activism, and literature can speak authentically today?
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