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uma volta

  • Foto do escritor: Emily Bandeira
    Emily Bandeira
  • 8 de jan. de 2023
  • 2 min de leitura

É novo voltar a pensar em ser una depois de tantos anos pensando e estando como duo. Acabei um relacionamento de anos e tem sido um trabalho exploratório voltar a me reconhecer.

Ainda bem que tenho muitos cadernos e escritos espalhados pelos anos, assim, pelo menos, dá pra ter alguma ideia do que tenho sido ao longo dos caminhos. Sem deveras razão para se perder. Sem deveras razão para se desesperar. Existe um eixo construído com palavras.

E nessas, fui atrás de escritos antigos, muito antigos, de tempos em que eu sequer me imaginava sendo o casal que fui. E me deparei com uma eu do passado, escrevendo com ternura sobre flertes de outrora. E quase consegui sentir o mesmo risinho interno nervoso de quando escrevi essas bobagens.

Como esse blog também é revisitar escritas de outros tempos, resolvi deixar aqui o registro. Que sirva como lembrete sobre como posso sentir as coisas, viver os detalhes, escrever a vida, voltar no futuro, tentar me tirar algum sorrisinho atemporal.

Segundo Semestre de 2017:


"1. Eu que era hóspede inusitada, apareci na tua noite anterior desamparada, eu e minha cara de sardas, buscando abrigo — que sem pensar duas vezes você ofereceu. Tomamos café, reunião solene em tua mesa. E você sai depois, vai ao supermercado, volta com o leite e a minha frente põe um chocolate "tradição". E eu rio, observo a embalagem branca com pontinhos vermelhos. "Já conhece?", me pergunta. "Já, já sim." Já tinha sido apresentada a essa graça vossa. Não significa que não olhava o chocolate encantada como que pela primeira vez. Não significa que dentro de mim aquele gesto não soava novo, delícia, brincando por entre minhas entranhas. Essa sua hospitalidade, por ocasião contida, ressoava em pontinhos vermelhos dentro de mim."

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"2. Você está em processo de luto. Respeito. Ao nosso redor, colocamos sua dor como personagem. Você a sofre e, juntos, rimos. Em meio a música caótica que escalona numa confusão que nos inflige em silêncio, êxtase. Olhos fixos nos musicistas. Os dedos negros e rápidos em desafio ao contra-baixo. As mãos que flutuam nas percussões. Os pés inquietos do pianista. E nossos joelhos balançantes que se encostam suavemente, hipnotizados pelo jazz..."

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"3. E se, caminhando cansada pelos universos do metrô, sem parar o passo, me mostras o livro que lê. Algo sobre exílios e cárceres. E dentro do livro, meu gesto em formato de adesivo que te serve de marca-páginas. Não fui esquecida. Sorrio."


 
 
 

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© 2024 por emily bandeira

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